Barbara Coimbra



Degrau após degrau.

Como que numa seqüência contínua, descendo as escadas, degrau após degrau, degrau após degrau, interminável degrau estritamente igual ao último,
que aquela escada em caracol mostrava-se igual a anterior, e a anterior, e a anterior, fazendo-se assim, cópia contínua de uma lembrança de muitos degraus acima, de um outro andar, num outro tempo, assim quase que igual a esse, repetindo o mesmo quarto degrau descendo do terceiro andar, ou do décimo segundo, não importa qual, e repetindo a mesma lembrança de um gemido abafado e da vontade de escrever um nome no céu.
E assim, ininterruptamente, eu descendo, degrau após degrau, tentando distinguir o passo, tentando separa-lo do andar, e Como?, você me perguntava, Como?, e eu descia mais um degrau, mirando nenhum futuro pela frente, descendo, descendo, degrau após degrau, Como separar o passo do andar?, e mais um degrau, como que numa seqüência contínua, cansada, o tempo me alcançou com rugas entorno à boca, cabelos caídos sobre os ombros, já secos e emaranhados, agora quase morta, mostro-me cansada à fresta de sol, descendo um degrau depois do outro, um pé depois do outro, na mesma seqüência, na mesma lembrança, na mesma desesperança, quando então parei.
Faltou estimulo, o corpo caiu.
Foi rolando, degrau após degrau, degrau após degrau, sem nunca chegar no chão.

1 Comments:

At 7:18 AM, Blogger Barbara Coimbra

am... tá.

 

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