Barbara Coimbra



Minha flor serviu?

Mozart sempre te lembrou seu avô, e então a minha falação, desligo o som, você suspira, moça. O Barulho te desconcentrava, fazia até desligar o Word. Que desconfortava a sua solidão de menina pequena, abaixa um pouco?, Dizia-me. Era ordem, não pergunta. Televisão pra você só era bom de madrugada, quando passava anime, suspira, respira fundo e suspira um suspiro de reclamação, coloca o fone e vê o skype... ninguém., eu sento, aumento o som do telecine, você olha pra ver se é cult, fazendo ar de apatia, mas não poderia esperar mais nada de mim, que eu gosto de colocar no pipoca, bem alto mesmo, pra rir de pastelão. Você liga los hermanos e coloca ao máximo no fone d’ouvido, random, ainda mais barulho pra sua cabecinha, mas pelo menos tenta esquecer que estou ali do seu lado, te olhando, ignorando a tv, que esse castelo só te prendeu, barulho que desconcentrava, que a música explodia nos seus ouvidos, mas a apatia continuava no seu rosto fingido, eu encarava sua nuca, chamei uma vez pelo seu nome, você não ouviu, cantava baixinho sem deixar sair som dos lábios.
Mas mesmo assim eu sabia, cantava aquele trecho de onde o barco foi desabar. Era a nossa música, ainda mais agora, Deus parece às vezes se esquecer. Você, se escondia no fone de ouvido, passando o dedo pela tela-plasma, eu tinha vontade de chorar, quando é que tudo foi desabar?
Guardei-te assim: escrevendo contos sobre seu avô, ouvindo Mozart, para esquecer que eu estava no andar de baixo.
Guardei-te assim: com as janelas abaixadas, passando o dedo pela tela-plasma, fingindo apatia enquanto ouvia los hermanos, para esquecer que eu estava ali, bem atrás de você.
Guardei-te assim: na porta da vila, vindo me entregar nossas lembranças, fugindo de mim, tirando sarro só pra ver se conseguia despertar o meu amor.
Vejo-te assim: Fumando Hollywood azul, na porta do cinema, fazendo ar de apressada pra não dizer porque me procurou depois de tantos anos, pra não dizer que descobriu que quem lhe enviou a flor fui eu.

1 Comments:

At 11:34 AM, Anonymous Anônimo

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O texto tá bonito

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To com saudade

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Não vou te procurar nunca mais na minha vida, agora me achar vai ser responsabilidade exclusivamente sua. Tenho dito.

Beijo

 

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