Barbara Coimbra



Diálogo I

- Me dá um conselho?
- Sim..
- O que eu faço?
- Agora?
- A partir de agora.
- Como assim?
- Me perdi... e nem sei quando foi.
- Se encontre.. No que vc se perdeu?
- Nao sei, em tudo, eu acho.



queria falar, só falar, entende? numa boa.... mas nao posso ligar, nao tem como. e tambem, ia dizer o que? lucas ligou te procurando, ? ah! AH! como é que cabe tanto desespero numa pessoa tao pequenininha?



toda partezinha de mim, chora.

Prendo a morte na garganta, a doença sai pelos olhos, treme e boca, treme a mão, prendo o ar. perguntas perguntas perguntas. chorar faz barulho, odeio isso.



esquiando.


ah! sempre levo susto quando sou comida pelo monstro feio da neve.



Te liguei tantas vezes hoje, mas seu celular não atende. Queria muito falar com você, ouvir voz conhecida dizendo estar com saudade. Sabe, estou com saudade. Tem água saindo pelos olhos, e não sei bem porque. Na verdade, não faço a menor idéia de por que isso acontece. Sei que quando acontece penso em te ligar pra dizer “to triste”. Que nem quando você me dizia quando eu te via chorando escondida no quarto, e eu perguntava porque e você respondia que a vida é sim, tinha dias que a gente chora. Mas eu não ligo nessas horas, quando a água cai, que você é muito preocupada e se eu te dissesse “to triste” você ia largar esse barco e vir direto pra cá me dar colo, eu sei. Mas sabe, sabe? Claro que sabe. Também acontece com você, de ficar triste e com dor no peito, tristeza de graça, de estar sozinha no quarto depois de voltar de uma festa, e então, fica triste e com dor no peito e arde as maças do rosto e cai água do mar dos olhos de deus, digo, dos seus. E aí passa o tempo e você esquece, e toda aquela dor que você se pergunta de onde é que vem, some. Acontece, não acontece? Comigo aconteceu agora, e quando sumiu, te liguei de novo, e olha!, não foi que a sua voz atendeu?



papai e mamãe fazem falta.



de manhã

Talvez seja o calor, o embrulho no estomago, ou mesmo o suor nas sobrancelhas. Pinga. Pinga. É como tinta na veia. Sozinha na veia.
Acordou com o peito molhado de suor, o corpo molhado de suor, o lençol enrolado na perna esquerda, o sol batendo nos olhinhos comprimidos, sonhando sonhos bons de pesadelos, de menininha pequena que não quer mais acordar. E murmura baixinho, Mamãe, mamãe, não quero acordar. E acorda e a mãe não está lá, e já não é mais tão pequena e já não pode controlar o seu não-acordar.
Que toda noite chora porque sabe que no dia seguinte vai ter que acordar.
E acorda. Enxuga a testa. Suspira o ar abafado. E não abre os olhos. Não, não abre, que se abrir vai ver o teto, e não quer ver. Tateia a beira da cama ainda de olhos fechados, treme a boca, treme a mão, rola pra esquerda com força: PAM.
Cai no chão.
Levanta com esforço, os braços estão bambos. Pinga suor da testa. As pernas estão bambas. Ela encara um ponto fixo com olhos ateus e implora, Deus, dê-me estímulo para viver.



Minha flor serviu?

Mozart sempre te lembrou seu avô, e então a minha falação, desligo o som, você suspira, moça. O Barulho te desconcentrava, fazia até desligar o Word. Que desconfortava a sua solidão de menina pequena, abaixa um pouco?, Dizia-me. Era ordem, não pergunta. Televisão pra você só era bom de madrugada, quando passava anime, suspira, respira fundo e suspira um suspiro de reclamação, coloca o fone e vê o skype... ninguém., eu sento, aumento o som do telecine, você olha pra ver se é cult, fazendo ar de apatia, mas não poderia esperar mais nada de mim, que eu gosto de colocar no pipoca, bem alto mesmo, pra rir de pastelão. Você liga los hermanos e coloca ao máximo no fone d’ouvido, random, ainda mais barulho pra sua cabecinha, mas pelo menos tenta esquecer que estou ali do seu lado, te olhando, ignorando a tv, que esse castelo só te prendeu, barulho que desconcentrava, que a música explodia nos seus ouvidos, mas a apatia continuava no seu rosto fingido, eu encarava sua nuca, chamei uma vez pelo seu nome, você não ouviu, cantava baixinho sem deixar sair som dos lábios.
Mas mesmo assim eu sabia, cantava aquele trecho de onde o barco foi desabar. Era a nossa música, ainda mais agora, Deus parece às vezes se esquecer. Você, se escondia no fone de ouvido, passando o dedo pela tela-plasma, eu tinha vontade de chorar, quando é que tudo foi desabar?
Guardei-te assim: escrevendo contos sobre seu avô, ouvindo Mozart, para esquecer que eu estava no andar de baixo.
Guardei-te assim: com as janelas abaixadas, passando o dedo pela tela-plasma, fingindo apatia enquanto ouvia los hermanos, para esquecer que eu estava ali, bem atrás de você.
Guardei-te assim: na porta da vila, vindo me entregar nossas lembranças, fugindo de mim, tirando sarro só pra ver se conseguia despertar o meu amor.
Vejo-te assim: Fumando Hollywood azul, na porta do cinema, fazendo ar de apressada pra não dizer porque me procurou depois de tantos anos, pra não dizer que descobriu que quem lhe enviou a flor fui eu.



desenho F



Ba bab du ba ba bei du! tanana tanana...



As formigas se espreguiçam pela manhã quando acordam.

Eu não,
tenho preguiça.



Isso não é de pelucia, juro.
Mais ainda, eles andam bonitinho, como Jawas.



Poucas coisas me encantam mais do que sua voz quando acorda
, dá uma ternura